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Abra de alguma lucidez audível / o que nem sabe-se por palavras nem / na música caminha, nem o silêncio anuncia-o [...] (J.O.Travanca Rego)

13 outubro, 2014

10 de Outubro: novo livro de Rui Nunes


Li esta noite a última obra de Rui Nunes: um livrinho com pouco mais de 30 páginas, publicado pela Língua Morta. (ou, transigindo, de que lado passarás a morrer, a clarear?). Esta pequena narrativa trata a morte de alguém que viveu numa cidade portuária. Sabemos isso pela descrição de ofícios, barcos e um porto. Para além desta morte, há o que a funda: o preconceito homofóbico. É uma descrição dura como sempre na obra de Rui Nunes: minuciosa nos actos e nos elementos que compõem o seu desenvolvimento. Tem uma unidade própria já que o fio condutor se ergue a partir da deambulação de uma espécie de espectro. Falo de espectro porque muitas personagens de Rui Nunes (e esta parece ter realmente existido) têm uma assinatura que parece ter nascido com elas, que lhe foi aposta: a morte e a dor são parte delas, como se fizessem parte do seu carácter e do seu sangue. Há sempre na obra de Rui Nunes uma dimensão ética que não encontramos na maioria da obra literária contemporânea. Há muito que deixou a história como condutora de um modo de constituir o seu discurso e o ponto de vista sobre o mundo. Fazemos o nosso ponto de vista sobre a obra, enquanto leitores, porque somos forçados a uma construção e desconstrução dos processos narrativos mas também dos modos de olhar o sujeito. É a condição humana e as suas margens que brotam do centro dos seus livros.

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