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Abra de alguma lucidez audível / o que nem sabe-se por palavras nem / na música caminha, nem o silêncio anuncia-o [...] (J.O.Travanca Rego)

30 dezembro, 2008

DURO É ESCREVER VERSOS


A Realidade dos Factos
Manuel Fernando Gonçalves Edições & ETC, 2008

Este livro do poeta Manuel Fernando Gonçalves (1951) está dividido em 4 partes (treze poemas contraditórios com limeriques; de morrer a rir; em sua firmeza vaga e intransigência absoluta).
A primeira parte expressa uma relação com o próprio corpo e o seu deambular sentido na urbe. Tudo convém ao poema para dizer a estranheza de um corpo metamorfose, devir ou já findo.
Depois vai-se para dentro, para a substância de que são feitos os afectos ou a falta deles, para uma vida «travestida» de muitas cores e figuras que a enchem.
O narrador escolhe a melhor estrutura e personagens para constituir o poema. E dá-se bem com a escolha num «coração» sempre à beira do colapso. A ironia abunda sobre o jogo amoroso e a vida a tornar-se pó e sombra. Por vezes a mesma figura de estilo avança sobre o que não tem saída, a morte, ou um emprego fora de versos.
Este livro daria excelentes canções como as que identificadas ou não suturam esta poesia.
«Calo, na mesma, o que devo
dizer: tenho metade em ti,
sou todo teu. O que é certo
é que nunca mais te livras
de ir queimar ao sol, pelo menos,
alguma sombra de que precisas.»

É triste este livro com um caudal de riso por baixo, em versos que exigem uma perfeita pronunciação, já que a rima enche estes versos, por dentro e na voz.