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Abra de alguma lucidez audível / o que nem sabe-se por palavras nem / na música caminha, nem o silêncio anuncia-o [...] (J.O.Travanca Rego)

15 dezembro, 2013

A Palavra Memória

Autor: Zlatka Timenova
Título: Chama, a Palavra
Editora/Ano: Edlp/2013

Este livro de Zlatka Timenova*, em pequeno formato, parece ter sido feito para a mobilidade urbana. Com prefácio de Nuno Nabais e revisão de Rui Zink, a poetisa búlgara verte para a língua portuguesa textos que, penso, escreveu originalmente em francês.
Temos então uma edição bilingue de pequenos poemas que se lêem como traços de um quotidiano submerso pela breve luz que se encanta por objectos, sentidos ou memórias. Com eles caminhamos ao encontro de uma opacidade que se revela em poesia. As palavras assumem que o que é breve aos sentidos merece permanecer -preto no branco- sem, contudo, se esquecer que também o verso se insere na linha do tempo: «No eco / do silêncio / oiço o sussurro / do tempo / eu sou o tempo» (pg.79).
Os poemas que raramente ultrapassam os cinco versos, tornam possível unir, no instante do seu aparecimento, o corpo sensível e a fantasia. Instante poético recolhido (em duplo significado) na ferocidade do tempo quotidiano. Talvez por isso se abra o título deste livro a uma ambiguidade semântica consentida: a que faz nascer a palavra incêndio - ardor e inspiração- ou convocar a palavra: CHAMA, A PALAVRA. Palavra para perpetuar o instante: «Areia fina / entre os dedos / corre / o silêncio/ dos nossos dias» (pg.25).
Um livro a ler.

*A autora nasceu em Sofia, na Bulgária, e está desde 1994 em Portugal, escrevendo, traduzindo e ensinando.