Etiquetas

Abra de alguma lucidez audível / o que nem sabe-se por palavras nem / na música caminha, nem o silêncio anuncia-o [...] (J.O.Travanca Rego)

15 julho, 2011

para os meus amigos

O corpo já arrefece e
a vida é apenas o tempo
de um abraço

11 julho, 2011

JORGE LIMA BARRETO





Conheci pessoalmente o Jorge Lima Barreto há pouco tempo, há menos de um ano, por obrigação académica: fiz parte do júri da sua tese de doutoramento que apresentou à Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (da Universidade Nova de Lisboa). Já tínhamos trocado alguns mails, e continuamos a fazê-lo depois da dissertação. Queria convencê-lo a dar algumas aulas no curso de Ciência e Tecnologias do Som, na Universidade Lusófona. Quando um dia destes foi ter comigo à universidade achei-o muito em baixo. Perguntei-lhe das causas. Deu-me as suas. Falamos do estado da arte e do país. Ficamos de falar. Lembro tudo isto agora que o Jorge se foi embora. Penso que deve ter ido dar uma volta, que foi até Vinhais e por lá deve ficar não se importando mais com a cidade, com a música e a escrita em torno da improvisação, da tecnologia e dos instrumentos. Foi sempre novo. Lembro-me na década de oitenta e em alguns concertos. Vou-me daqui a um dos discos dele. E que posso eu lembrar? O Verão com o Jorge dentro.

08 julho, 2011

Cy Twombly (1928-2011)



Olhamos. Olhamos muitas vezes. Suspendemos a visão e pegamos no ouvido. Queremos ouvir o traço do pincel; os riscos; as letras e, sobretudo, os nomes. Ficamos neles. Querem dizer tempo. São profundos e levam-nos a Roma e a Atenas. São nomes de gente. Todos mortos. Mesmo um ponto de tinta ou uma letra remetem para um início, uma origem, que logo se faz maior idade e parece morrer. Mas antes há em nós a evocação de um tempo profundo, da sua memória e das nossas lembranças.
Pintar ou desenhar como se estivesse a ouvir as primeiras letras a serem ditas, articuladas. Escrever para querer dizer os segredos que se escondem por detrás de todas as palavras, mostrar o significado de cada vez que foram ditas. E o que ouvimos? A algazarra dos tempos. As épocas sobrepondo-se e a audição a deixar-se cair para dentro, para essa matriz sonora que se compõe desde o início. Na infância dos gestos e da expressão: é aqui que tudo começa.

Morreu em Roma que tinha adoptado como sua.