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Abra de alguma lucidez audível / o que nem sabe-se por palavras nem / na música caminha, nem o silêncio anuncia-o [...] (J.O.Travanca Rego)

31 julho, 2017

Sam Shepard



Shepard representava a escrita americana como poucos. Via mais para dentro, nos limites do oeste, onde a solidão é difícil e doentia.
Deixo, in memoriam, um poema do seu livro Motel Chronicles (Crónicas Americanas, trad. De José Vieira de Lima, Lisboa:  Difel, 1986).

3.30 da manhã

será um galo
ou uma mulher gritando na distância

será o céu negro da noite profunda
ou o quase-azul dentro da madrugada

será um quarto de motel
ou a casa de alguém

será o meu corpo vivo
ou morto

será o Texas
Ou Berlim-Oeste

afinal
que horas são

a que pensamentos
posso chamar meus aliados

e se suspendesse
todo o pensamento

uma pausa honesta
num espaço vazio

deixem-me navegar a estrada
de cabeça vazia

só uma vez

não estou a suplicar

não estou a pôr-me de joelhos

não estou em condições de dar luta.

9-12-1980
Fredericksburg, Texas