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Abra de alguma lucidez audível / o que nem sabe-se por palavras nem / na música caminha, nem o silêncio anuncia-o [...] (J.O.Travanca Rego)

17 dezembro, 2010

Uma boa prenda de Natal


Título: Antologia
Autor: Fernando Echevarría
Editora/Ano: Edições Afrontamento/2010


Quando já lia filosofia, falamos no início da década de 80 (eu sou dessa ímpia geração), apareceram no mercado dois livros que pouco tendo a ver com o exercício de um pensamento reflexivo sobre a filosofia ou qualquer dos seus objectos, despertaram em mim uma enorme curiosidade. Dar a dois livros de poemas os nomes de Fenomenologia (1984) e Introdução à Filosofia (1981), pareceu-me na altura, e a esta distância, uma deslocação de campos da crítica e criação.
Vem agora Fernando Echevarría lançar no mercado uma reunião parcelar da sua poesia a que chamou apenas Antologia, unindo no mesmo objecto alguns dos principais poemas dos livros que vem publicando desde 1956. Se agora me parecem distintos estes poemas é porque o tempo passou por eles, deslocando-os também para a minha reflexão sobre o real. Na verdade, Echevarría constitui no panorama da poesia da segunda metade do século que findou, um caso exemplar: uma poesia construída em torno dos elementos, problemáticos ou não, que permitem reflectir sobre o conhecimento que temos do acontecimento, e do modo como este conhecimento atinge, mesmo que apenas simbolicamente, a nossa forma de sermos.

A sua leitura tem que ser feita com uma atenção extrema ao movimento e ao ritmo do verso, e uma atenção redobrada à torção semântica que Echevarría produz nalgumas palavras que nele são elementares.

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