1-8-2007
O futuro não se sabe. O tempo não conhece ninguém. É este o grande problema.
2-8-2007
Há uma película fina e transparente que cobre a superfície do mundo. Para alguns, deve ter sido deus a tricotar, nas horas do seu ócio eterno, esta fina camada entre os homens e o mundo; para outros está neles essa película e envolve todos os seus sentidos.
3-8-2007
Dou um salto grande. A terra treme mas não cede.
Voltarei a tentar mais tarde. Sinto que está instável.
4-08-2007
As paisagens sonham-se dentro desta tarde de Agosto.
As imagens fogem da literatura.
7-08-2007
Escrever palavras, com um dedo de criança
para ficarem soltas no ar, «como alegria e mundo».
Escrever outras menos precisas, «como amor»,
só por descuido,
pois muitas mirram e morrem
sugadas pelo ar da manhã.
Mas o homem não sabe escrever de outro modo.
Nunca teve outro utensílio
apenas o dedo indicador com que desenha
as letras bonitas e redondas
que viu nos livros da casa.
«Desenhar casa», lembrou-se
e surgiu uma cidade
mistura de outras cidades do Sul.
Olhou para onde nunca esteve
e esperou que o ar a engolisse por inteiro.
17-08-2007
Algumas vezes somos iludidos
ao pedir coisas fundadas no silêncio*
quando o fundo é ruído.
Talvez se salve o pedido
com as suas palavras todas
sopradas para o devir imenso
que é uma boca de beijos mecânicos.
* Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio. (Sophia de Mello Breyner Andresen)
18-08-2007
E lá mais para a frente pedirei vinho branco
para que me chegue novamente
o Verão à boca,
e assim possa beijar
«com os lábios de menino que regressa,
este mundo tão velho»
(dizia Francisco Brines).
O futuro não se sabe. O tempo não conhece ninguém. É este o grande problema.
2-8-2007
Há uma película fina e transparente que cobre a superfície do mundo. Para alguns, deve ter sido deus a tricotar, nas horas do seu ócio eterno, esta fina camada entre os homens e o mundo; para outros está neles essa película e envolve todos os seus sentidos.
3-8-2007
Dou um salto grande. A terra treme mas não cede.
Voltarei a tentar mais tarde. Sinto que está instável.
4-08-2007
As paisagens sonham-se dentro desta tarde de Agosto.
As imagens fogem da literatura.
7-08-2007
Escrever palavras, com um dedo de criança
para ficarem soltas no ar, «como alegria e mundo».
Escrever outras menos precisas, «como amor»,
só por descuido,
pois muitas mirram e morrem
sugadas pelo ar da manhã.
Mas o homem não sabe escrever de outro modo.
Nunca teve outro utensílio
apenas o dedo indicador com que desenha
as letras bonitas e redondas
que viu nos livros da casa.
«Desenhar casa», lembrou-se
e surgiu uma cidade
mistura de outras cidades do Sul.
Olhou para onde nunca esteve
e esperou que o ar a engolisse por inteiro.
17-08-2007
Algumas vezes somos iludidos
ao pedir coisas fundadas no silêncio*
quando o fundo é ruído.
Talvez se salve o pedido
com as suas palavras todas
sopradas para o devir imenso
que é uma boca de beijos mecânicos.
* Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio. (Sophia de Mello Breyner Andresen)
18-08-2007
E lá mais para a frente pedirei vinho branco
para que me chegue novamente
o Verão à boca,
e assim possa beijar
«com os lábios de menino que regressa,
este mundo tão velho»
(dizia Francisco Brines).
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