
renata correia botelho
small song
Averno, 2010
Há um lugar de silêncio nesta poesia, e isso é bom, como uma oração transviada que em vez de subir ao Altíssimo, permanece rente ao chão, à natureza do poema. Este lugar é, sobretudo, de palavras que se cruzam com a experiência. Mas esta experiência padece, por enquanto, de alguma mudez: é na linguagem que o mundo ganha algum rumor e sentido, é no «livro» que o viver se vê; é perante a grandeza da criação do homem que o corpo se dobra («há músicas que só podemos/ ouvir de joelhos») . O poema deriva sempre do confronto com essa deficiência que o real parece comportar. A beleza no humano é a dor do humano perante a visão de um irreparável estado de coisas. Como a morte.