.jpg)
Há muito que leio e investigo sobre os problemas do som. O seu despertar lento desde os fins do séc.XIX, a sua inclusão nas principais vanguardas do séc.XX, a emergência do ruído nos ofícios e artefactos humanos e as suas causas e efeitos. Por esta razão achei bonito este poema que aqui transcrevo, incluído no último livro de ANTÓNIO SALVADO, Ao Fundo da Página (Estudos de Castelo Branco, 2007). O desejo aqui transcrito é o de um acoustic mirror (espelho acústico).
Para que essa pintura de paisagem
com trigais e papoulas
e algumas discretas casas,
vivificantes palheiros,
ficasse efectuada,
deveria trazer ao nosso olhar
condescendente
um zumbido subtil
de brisa a deslocar-se,
o som não vibrante
do sino mais além do campanário,
palavras de amargura ao pôr do sol
e um calado pesar de mais um dia igual.